quarta-feira, 6 de junho de 2012

Eram precisos dois Salazares para limpar o sebo à Carochinha!

Num destes dias estava eu sentado a ver e ouvir um DVD de canções infantis quando, estranhamente, em vez de sentir despertar em mim o meu lado mais inocente comecei a corar de vergonha e a ter vontade de desligar a TV. Só não o fiz porque a pequenita só tem nove meses e ainda não tem maldade nenhuma naquela cabecinha. Agora, mal ela faça um ano aquele conjunto de discos vai arder numa fogueira; é certinho! A expressão tão popular "Eram precisos dois Salazares para endireitar isto!" nunca fez para mim tanto sentido como nessa tarde fatídica em que assistia com a inocente da minha filha àquele churrilho de impropérios e ataques à moral e aos bons costumes.
Começo por desabafar sobre o clássico mais soft "Atirei o pau ao gato... MAS o gato não morreu...". Como é óbvio, hoje em dia, a adversativa "mas" na cantilena teria gerado uma celeuma descomunal entre as associações de defesa dos animais. Então por que carga de água é que o génio que inventou isto se lembrou de incentivar a petizada à violência contra os animais? E por que é que a Dona Chica se admira com o berro que o gato deu? Se fosse ela a levar uma paulada na cabeça, não berrava? E de certeza que ficava feliz por sobreviver... Só se não pudesse é que não se punha na alheta!
Mas isto de ser confrontado com incentivos ao sacrifício de animais domésticos nem foi o pior. As coisas começaram a aquecer com "As pombinhas da Catrina, andaram de mão em mão..." e etc. A dada altura, como todos nos recordamos, reza a letra o seguinte: "...tenho sete namorados e não gosto de nenhum!". Por amor de Deus! Se não gosta de nenhum, por que é que "anda" com todos? Agora andamos a promover a promiscuidade entre a criançada é? Ainda por cima sete namorados!!! Se fosse um rapazito a cantar "tenho sete namoradas" ainda era de homem e até tinha uma certa graça, agora uma miúda assumir isto através de uma cantiga popular é sujeitar-se a ser insultada do piorio ou mesmo a ser expulsa da catequese. Preocupou-me especialmente a letra desta cantilena porque eu próprio tenho uma filha para criar. Felizmente ainda não percebe estas coisas!
Também não gostei particularmente de recordar "A Machadinha", onde claramente se incentiva as crianças a saltar para o meio da rua, pondo-se a jeito para serem atropeladas por um condutor embriagado ou, pior, raptadas por uma dessas redes de pedofilia. Nos dias que correm, todo o cuidado é pouco! Se bem que não sei se é pior esse cenário ou o da total inversão de valores exemplificada pela versão da "Carochinha" incluída no DVD em causa. Nessa versão, a Carochinha pergunta se alguém quer casar com ela visto que "é muito rica e também é bonitinha!". Repare-se na gradação dos atributos: Casem comigo, 1º - Porque estou carregadinha dele (deve ter sido alguma herança, digo eu!), 2º - Porque sou uma moça roliça e bem apessoada, 3º - Não interessa! O que é fixe é aparecer nas revistas e cobrar mundos e fundos por aparições em discotecas, porque o carcanhol é que faz o mundo girar, chavalo! 
É esta mensagem que se quer transmitir às futuras gerações? Pais, reflictam sobre o assunto! 
Ah, ainda tinha planeado abordar o conteúdo pornográfico (para não usar outra adjectivação!) da lenga-lenga "Pico pico saramico quem te deu tamanho bico? Foi a filha do juiz que está presa pelo nariz...", mas nem tenho estômago para isso... Enfim, reflictam...             

quinta-feira, 22 de março de 2012

Clímax no ginásio?

Era para ter escrito isto ontem mas fiquei um bocado abalado com a derrota do meu Porto contra o Benfica para a Taça da Liga e já não tive energias para mais nada. Acho que fiquei mesmo em estado de choque, como se fica quando acontecem fenómenos da natureza raros e catastróficos, como os tsunamis; acontecem de dez em dez anos e deixam um rasto de destruição por onde passam. É, foi assim que me senti... Mas, felizmente, há todos os dias notícias interessantes, que ajudam a combater o astral cinzento deste país, surgindo como uma lufada de ar fresco neste ambiente asfixiante em que vivemos. Num dos jornais diários que folheei, fui surpreendido com um título que me captou a atenção:

Exercícios no ginásio podem levar mulheres ao clímax sexual

Curioso, li a notícia e fiquei a saber que "os estudiosos da Universidade de Indiana (EUA) concluíram que fazer abdominais, trepar uma corda, usar a bicicleta estática ou o levantar pesos é quanto basta a muitas mulheres para atingirem o prazer sexual." Desconfiado, pus-me a pensar e concluí que, para além de me parecer bastante suspeito, este fenómeno pode trazer muitos inconvenientes. Primeiro cheira-me que esta notícia foi lançada para tentar aumentar o número de inscrições nos ginásios, em altura de crise e de aumento do IVA. Depois, a ser verdade, isto pode ser um autêntico flagelo para os utentes desses antros de exibicionismo feminino; não que eu ande a reparar nessas coisas, porque quando estou a "malhar" o mundo à minha volta deixa de existir... mas, suponhamos que estou eu muito concentrado na máquina dos dorsais a contar as elevações e começa uma jovem ao meu lado a arfar, enquanto trepa uma corda ou levanta um halter. É muito desagradável...! Ou então que, enquanto dou umas remadelas, começa a gemer a moça que está ao meu lado a trabalhar os grandes adutores, naquele movimento indecente de "tesoura". É inadmissível! A pessoa a pagar a mensalidade e não só se desconcentra com esses ruídos animalescos, como ainda por cima é impedida de ouvir as "malhas" que passam na MTV Dance e que ajudam a marcar o ritmo.
E não é só isso! Temos que pensar nos velhinhos que vão para o ginásio recuperar de enfartes ou tentar salvar a própria vida, depois de anos de emborcamento e de beberete desenfreado. E se, à custa de gemidos e suspiros, começam a morrer os nossos pais, tios e avôs? O seguro paga? A natureza já não é muito generosa com o macho no que diz respeito à esperança média de vida e, ainda por cima, temos que levar mais esta machadada? Como dizia a minha avó: "Não há direito!" 
Portanto, para concluir, peço encarecidamente às minhas caras leitoras o obséquio de se absterem de ir para ginásios contribuir para o aumento da mortalidade masculina. Por favor fiquem em casa, montem uma elíptica ao lado do fogão, que assim sempre poupam algum em deslocações e podem conseguir na mesma a figura esbelta com que sempre sonharam. Obrigado e até breve!                      

quinta-feira, 15 de março de 2012

Quero ser mulher-a-dias

Pois é... continuo com bastante tempo livre para a escrita, graças à Troika e a todos vocês, que andaram a viver acima das vossas possibilidades durante anos e obrigaram o governo a financiar o BPN, a dar esmolas à Lusoponte e a pedir-me para devolver metade dos meus subsídios de férias e de Natal. Espera aí...! Mas eu não tenho subsídio nenhum (apesar de ter trabalhado ininterruptamente nos últimos 4 anos...), sou trabalhador independente!!! Agora é que fiquei mesmo indignado!
Infelizmente, a indignação não paga contas e, para além da escrita, tenho-me dedicado à procura de emprego, o que nesta altura do campeonato, tendo em conta a minha profissão, não é especialmente fácil. Ando mesmo a considerar a hipótese de seguir o conselho do nosso primeiro-ministro, dar largas ao meu espírito empreendedor, reconverter a minha carreira e apostar num sector de actividade completamente diferente e com excelentes perspectivas de futuro. Estou a fazer planos para me tornar a curto prazo... preparem-se...: o primeiro homem mulher-a-dias de Portugal! Esta ideia surgiu-me ontem quando me ligaram de uma multinacional do ensino de língua inglesa, em resposta a uma candidatura que, entretanto, enviara:
- Dr. Carlos, estou-lhe a ligar do XXX para saber se tem disponibilidade para uma entrevista.
Eu, que há uns anos atrás tinha sido contactado pela mesma empresa e sabia que não eram propriamente uns mão largas, quis obviamente saber qual era o vencimento. Tratava-se de um horário misto (laboral e pós-laboral) de 20 e tal horas por semana.
Digo eu:
- Sim claro, mas já agora, será que me pode adiantar o valor de honorários/hora?
- Por hora não posso precisar, porque depende das semanas, mas são aproximadamente 450€ por mês, a RECIBOS VERDES!
Ora, aqui o Carlinhos não é nenhum Nuno Crato mas sabe fazer contas e concluiu que, entre contribuição para a Segurança Social, IRS (21,5%), gasóleo e alimentação, ia ganhar mais ou menos 100€ por mês. Por hora...enfim, é só fazer as contas... Está bem que eram cem eurinhos líquidos, mas mesmo assim! Se calhar sou eu que sou um ganancioso do caraças...
E foi neste hilariante contexto, que me despedi da simpática senhora e que começou a germinar em mim a ideia de me tornar empresário por conta própria no ramo da higienização do lar. Sempre posso receber, pelo que dizem, algum por baixo da mesa e a senhora que limpa o meu prédio até diz que o trabalho é bom de se fazer, não dá chatices e até consegue "tirar mais ao fim do mês" do que um professor de Inglês a trabalhar para uma grande multinacional do ensino.
Portanto, meus amigos e minhas amigas, façam como eu. Não sejam piegas, vão mas é bulir porque empregos não faltam! É preciso é que as pessoas queiram trabalhar; em vez de andarem a perder tempo com blogs e essas modernices...! 


        

segunda-feira, 12 de março de 2012

A mulher, esse "bicho"...

Há aproximadamente seis meses iniciei aquele que é provavelmente o maior desafio da minha vida e, sem dúvida, aquele que me vai provocar o maior número de cabelos brancos. Gosto muito de mulheres, apesar de nem sempre conseguir descortiná-las, mas viver com duas é dose e psicose! E é essa a minha realidade. A mais velha, apesar de ser um doce, veio com todos os defeitos de fabrico e de série e, por isso, como qualquer exemplar da espécie que se preze, obriga o seu parceiro a:
- adivinhar em vez de dizer logo o que quer;
- dar opiniões sobre assuntos que não interessam ao menino Jesus;
- usar quinhentas palavras quando conseguia, perfeitamente, dizer o mesmo com quinze;
- ajudá-la a escolher a cor das cortinas e das paredes para um mês depois decidir que, afinal, quer mudar;
- ouvi-la a lamentar-se por não ter tempo para fazer exercício, enquanto devora meia barra de chocolate e um saco de gomas;
- dizer-lhe que a barriga dela não é maior que a da actriz que está a aparecer na televisão (e que se alimenta à base de ervilha e chá verde!).
Enfim, digamos que é um bocado cansativo e estamos a falar só da mais velha, porque a filha, apesar de ter só seis meses, já começa a revelar tiques procupantes, que não auguram nada de bom. Para além de olhar para ela e não conseguir parar de pensar que daqui a uns anos vou ter em casa TPM, ataques de choro, idas às compras, pedidos de opiniões sobre roupa e sermões a dobrar, vejo e ouço coisas dela que me, digamos, aterrorizam. Primeiro, vejo ali projectados os dilemas da mãe em relação aos cortinados: se lhe dou para brincar o pato amarelo, depois de o levar à boca (e quando digo depois, são trinta segundos!), começa a grunhir porque o patinho já não interessa e o ursinho é que é bonito. Escusado será dizer que esta esquizofrenia se repete com as dezenas de objectos que são trocados de mão em mão. Depois, há um paradoxo intrigante em relação à alimentação: se a mais velha se queixa que engorda na mesma proporção em que lhe entra comida na boca, a mais nova, quanto mais sopa e papa cospe, mais engorda! Já vai quase em sete quilos e não sei se as minhas costas aguentam muito mais. É que entre acartar a badochita e limpar a sopa da carpete, vai aumentando o risco de aqui o papá desenvolver bicos de papagaio e outras doenças com nomes engraçados, que povoam o imaginário das senhoras de meia-idade e para cima, que homenageei na minha primeira crónica. Como se não fosse suficiente, e mais grave ainda, acho que a pequena sofre de stress pós-traumático, o que é estranho porque o parto decorreu sem complicações e, que eu me lembre (a minha memória entretanto também já não é a mesma...), não sofreu nenhum trauma desde então. Digo isto porque tenho na família ex-combatentes do ultramar que partilham com a minha querida filha alguns sintomas desse flagelo do foro psiquiátrico, que destrói a vida dos próprios e de toda a família. Tal como esses heróis de guerra, negligenciados pela pátria, também a miúda acorda de noite aos berros e balbucios sem motivo aparente, sendo que quando chego ao berço, depois de uma corrida de obstáculos que inclui bonecos, chupetas, guizos e um mini-ginásio, encontro a santinha a dormir profundamente. Para além do stress pós-traumático, estou convencido de que a criança também padece de bipolaridade. É que, não raras vezes, quando acorda e olha para mim tem a capacidade de sorrir e chorar (com lágrimas!) em simultâneo. Isto também acontece, por vezes, quando acorda e se põe a observar os pirilampos do móbil da Chicco que lhe instalei no berço. Será que nos confunde, a mim e aos bichinhos? Não sei, mas ando mesmo muito preocupado e temo seriamente pela minha sanidade mental! Enfim, aceitam-se conselhos.               

domingo, 11 de março de 2012

Aos professores e a outros piegas

Sempre tive gosto pela leitura e pela escrita e, para aproveitar o sobejo tempo livre que tenho tido ultimamente, decidi criar um blog. Pensei de mim para mim que, se qualquer pessoa pode ter um, e se até a Carolina Salgado pode ser romancista, por que carga de água é que aqui o menino não há-de ser uma estrela da blogosfera? E assim foi.
Antes de abrir hostilidades (espero que literalmente!) gostaria de deixar aqui um abraço aos grandes queridos que proporcionaram a pessoas como eu algum tempo livre para estas macacadas. Refiro-me a todos aqueles que minaram a educação deste país com políticas levianas, contribuindo para que, números redondos, dúzias (muitas!!!) de professores estejam desempregados, 10% dos meus compatriotas não saibam ler nem escrever e, dos restantes 90%, metade não perceba patavina daquilo que lê e, quanto a escrever... está bem está! Nem é bom lembrar... 
Este agradecimento tem especial destinatário na figura do nosso primeiro-ministro, que, ao acabar com o programa Novas Oportunidades, reduziu ainda mais as minhas hipóteses de desempenhar a função para a qual fui bem preparado: ensinar e formar. Por outro lado, proporcionou-me o tempo necessário para me dedicar a este bonito espaço de dissertação.
Feitos os devidos agradecimentos, vamos ao que interessa. Nesta primeira publicação pretendo, sobretudo, contextualizar esta minha aventura. Tendo em conta o cenário de iliteracia supracitado, como quero chegar ao maior número de leitores possível, procurei criar um título apelativo para o meu blog. Como a ideia era publicar crónicas, num país que gosta mais de novelas da TVI do que de televisão e prefere o Correio da Manhã a jornais, tinha que pensar em algo que gerasse a predisposição para a leitura de textos de alto gabarito. Sendo a palavra "crónicas" um bocado insossa, optei por lhe juntar uma que, embora muitas pessoas nunca tenham visto escrita em lado nenhum, ouvem de cinco em cinco minutos nos programas da manhã da TV: "patologias". A doença é um tema muito caro aos portugueses e, sobretudo, às portuguesas. Bicos-de-papagaio, pedra nos rins, "castrol", "tiróide", "asiática" ou até mesmo "patite", são palavras que fazem fervilhar qualquer pensionista portuguesa, seja na sala de espera do centro de saúde, na paragem de autocarro ou no estúdio de televisão, atrás do Goucha, da Cristininha ou da Julinha. Portanto, "Patologias Crónicas", parece-me o nome ideal  para descrever o espírito da coisa e definir, desde já, o meu público-alvo: senhoras de meia-idade e para cima, doentes e telespectadoras dos programas da manhã da SIC e da TVI, mesmo que às vezes não possam ver porque têm de ir aos Correios ou à fruta. No entanto, se isto interessar a mais alguém, bom proveito! 
Antes de ir embora (volto já!), na antecâmara de mais um concurso do Ministério da Educação para a "deslocação" de docentes, dedico em especial esta primeira crónica, ou o que quer que isto seja, aos meus colegas professores e a outros piegas. 
Até breve!